Prof.ª Doutora Maria José Sá

Nacionalidade: Portuguesa

Formação Académica:
Doutoramento em Medicina, FMUP, 1998
Licenciatura em Medicina, FMUP, 1976

Cargos Actuais: Especialista de Neurologia; Coordenadora do Ambulatório e do Hospital de Dia de Neurologia; Coordenadora da Consulta de Doenças Desmielinizantes; Responsável pelo Laboratório de Líquido Céfalo-raquidiano, Serviço de Neurologia, Hospital de S, João, E.P.E., Porto; Professora Associada de Neurologia, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa, Porto; Docente responsável pelas Unidades Curriculares de Patologia Neurológica e de Neuroprotecção e Terapia Neurológica, Programa Doutoral de Neurociências, FMUP; Membro da Comissão para a Gestão Integrada da Doença Esclerose Múltipla da Direcção-Geral de Saúde, Ministério da Saúde; Delegada da Sociedade Portuguesa de Neurologia ao Painel Científico de Doenças Desmielinizantes da European Federation of Neurological Societies; Membro do Painel Científico da European School of Neuroimmunology .

Resumo da Palestra (Co-apresentação com Dr.ª Joana Guimarães)
A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória e desmielinizante crónica do sistema nervoso central de etiologia desconhecida, que se inicia geralmente entre os 20 e os 40 anos e é mais frequente no sexo feminino. De evolução predominante sob a forma de surtos (ou exacerbações) e remissões, o impacto da EM a nível pessoal, familiar e social é considerável, sendo a doença neurológica de causa não traumática mais incapacitante nos adultos jovens. Em Portugal, pais de média prevalência, estimam-se que existam cerca de 5000 indivíduos com EM. Até à década de 80 estes doentes eram assistidos nas consultas de Neurologia geral, mas o reconhecimento das particularidades da doença induziram a criação de consultas específicas de Doenças Desmielinizantes/EM, primeiro no Hospital de Santa Maria em Lisboa, logo seguido do Hospital de S. João (HSJ) no Porto, em 1986. Em 1991 um grupo de Neurologistas vocacionados formou o Grupo de Estudos de Esclerose Múltipla afiliado na Sociedade Portuguesa de Neurologia.
Progressivamente os Serviços de Neurologia de média dimensão individualizaram também consultas de DD/EM. De forma geral estas consultas integram Neurologistas, Enfermeiros com formação específica organizados em Associação própria, neuropsicólogos, Assistentes Sociais e contam com a colaboração de médicos de outras especialidades como Urologia, Psiquiatria, Medicina Física e Reabilitação. A consulta do HSJ, cuja organização será apresentada, presta assistência a cerca de 600 doentes por ano, 10% dos quais são novos casos, e é sede de ensaios clínicos e projectos de investigação. A actividade científica da consulta, que decorre em articulação com o Laboratório de LCR integrada na área temática de Neuroimunologia, tem sido divulgada em reuniões científicas e através de publicações em revistas indexadas; os resultados obtidos nos diferentes campos de investigação básica e clínica serão também referidos.
Em 2007 a Direcção-Geral de Saúde criou um grupo de trabalho para a Gestão Integrada da Esclerose Múltipla, que visa instituir o registo nacional dos doentes, promover a articulação entre as consultas hospitalares, os cuidados primários e os cuidados continuados, criar uma comissão de validação terapêutica e de boas práticas, e financiar os Hospitais de acordo com a diferenciação dos cuidados.
No âmbito das estratégias terapêuticas, a EM tem sido alvo, nos últimos anos, de constante interesse pela comunidade científica em geral, abrangendo áreas diversas, não só da terapêutica sintomática, mas também da terapêutica modificadora da história natural da doença. Em relação à terapêutica sintomática farmacológica, existe investigação na procura de novos medicamentos que visam a melhoria de problemas decorrentes da doença, tais como fadiga, dor, queixas do foro urogenital ou sinais e sintomas afectivos, cujo alívio ou resolução tem um impacto considerável na qualidade de vida dos doentes. Nas fases de surto, corticoterapia endovenosa em altas doses e de curta duração é a terapêutica de eleição.
Mas a grande aposta tem sido a procura de fármacos modificadores da história natural da doença. São já várias as terapêuticas que demonstraram não só em investigação, mas também na experiência clínica, benefício evidente, nomeadamente na atenuação e diminuição da frequência de novos surtos. E as recomendações internacionais propõem o uso imediato em doentes com diagnóstico de EM de acordo com critérios de McDonald ou com doença activa progressiva (com surtos ou com lesões activas na RM). Actualmente estão aprovados três tipos de imunomoduladores como terapêutica de primeira linha: Interferon beta 1-b; Interferon beta1-a e Acetato de glatiramero. Recentemente foi aprovado um novo fármaco, o Natalizumab, que é um anticorpo monoclonal indicado nos doentes com formas surto-remissão graves. Em caso da falência terapêutica, poderá optar-se por imunossupressores (ex. mitoxantrone, azatioprina) ou por terapêuticas de associação (ex. com imunoglobulinas e.v.).